14 de novembro de 2012

A Retomada

Dos ensinamentos do Moacyr


Não quero convencê-lo, caro leitor, de que neste espaço não cabe abertura para verbos na primeira pessoa do singular. Seria um equívoco pensar um diálogo sem o uso de tais recursos de linguagem. Ou então este espaço seria unilateral, o que não cabe aqui neste exato momento, muito menos em momentos anteriores a hoje. Mas o que eu quero deixar claro com esta mensagem é que eu sinto falta daqueles momentos fortes do dia-a-dia em que eu me sentia incomodada com tanto sentimento em volta de mim e expunha isso em palavras para exprimir minha tristeza pela distância, pelo desafeto ou afeto de outrem e até pelo desacato; a ternura pelo encontro ou desencontro entre as pessoas, muito comum a todos nós caros indivíduos iludidos ou desiludidos. E também indivíduos que iludem outros e outros por aí vez em quando – fato inegável.


Ela começou a escrever, mas de súbito se lembrou da distância que separava ela do leitor. Vez em quando isso a incomodava, mas era de praxe escrever na terceira pessoa. Quando assumiu o Caderno de Rascunhos, havia deixado claro que aquela seria uma página impessoal. Mas há alguns meses, entrou em contato com um grande escritor de contos policiais, o Moacyr, e aprendeu várias coisas com este. Uma delas foi a de sempre por sentimento naquilo que se escreve para outra pessoa. Parou o texto de repente ante a recusa da retomada. Não queria expor tanto sentimento naquela ocasião, queria apenas considerar alguns episódios que marcaram seus escritos até aquele exato momento: as mudanças, as falhas, as expectativas frustradas. E não só isso, queria se (re)aproximar dos velhos questionamentos, pois considerava distante suas atuais perspectivas de sentimentalismo com suas perspectivas profissionais, havia muita coisa em jogo e o ideal era se desligar de tudo – era o que pensava em voz alta.

Fechou o notebook, foi até o espelho e começou a retirar a maquiagem. Não iria mais sair àquela noite. As lembranças dos ensinamentos do Moacyr eram muito fortes. A escrita com sentimento traz mudanças profundas ao âmago de qualquer pessoa que se dispõe a traduzir em palavras qualquer frustração ou alegria. E ela ficou mexida com tudo o que começou a lembrar. As emoções vieram à tona e o Moacyr ficou cada vez mais perto do seu coração. Tinha que fechar aquele texto para o dia seguinte e precisava rever seus conceitos para que a escrita não fosse mais um de suas histórias vazias, afinal o leitor era a peça chave do seu sucesso, não podia ignorá-lo como sempre fazia. Limpou o rosto por completo e, num gesto apressado, correu para o notebook e continuou:

 Mas mesmo quando iludidos ou quando fantasiamos algo, o sentimento é a melhor forma de expressar opinião frente ao que fomos ou ao que estamos sendo expostos. Desde já, prometo voltar mais ao passado e revolver sentimentos para expressar paixão, carinho e esperança em relação ao hoje, ao amanhã e ao depois. Quero estar mais perto de vocês, mesmo que seja para iludi-los. E vou iludi-los vez em quando.

O Caderno de Rascunhos foi ao ar bem cedo, e ela se sentiu mais segura quanto ao porvir. Sim, o porvir...

Um comentário:

Você pode dizer muito ou quase nada; pode apenas fincar as suas unhas e aranhar a minha janela ou derrubar as cortinas, não tem problema: mostre que você está vivo! Obrigada por estar aqui!