16 de dezembro de 2012

A Saudade é um Rolo que Nunca Acaba

Nem sei por onde começar, minha cara saudade, o horizonte parece tão ofuscado diante da lembrança da tua fotografia. Você não acreditaria se eu te dissesse que ainda guardo o rolo X-T400 da Kodak na gaveta da minha escrivaninha. Um tempo tão bom, às vezes sinto vontade de voltar e melhorar tudo – mudar algumas atitudes para que as minhas lembranças sejam melhores do que essas que guardo aqui em meu peito. Brincar era nosso lema, lembra? Brincávamos de queimado todos os dias como se fosse o maior feriado de setembro e corríamos por entre o campo da Rua do Benévolo SN para incentivar o pega-pega, brincadeira de última hora, antes de corrermos para casa aos gritos da mãe.


Até os gritos da mãe me soam como música aos ouvidos. Como era bom aquele tempo, foi lá que eu aprendi a andar de bicicleta.Ainda me lembro bem de tudo, guardo todas as fotografias num álbum de papel datado em letras miúdas junto com as horas, o lugar e o sentimento:  tudo num espaço ínfimo do lado direito de quem abre para ver as fotos. E agora quem abre o álbum sou eu e me emociono.  Eu sei que devia ter relaxado mais e aproveitado tudo com mais sobriedade, mas agora é um pouco tarde para analisar essas coisas. Ou talvez tivesse mesmo que ser daquele jeito, a imaturidade faz a gente cegar e perder o rumo. Agora a saudade aperta o meu peito e me faz lembrar os fins de semana na Praia do Sol, lá pras bandas do Sul, e nossa tentativa de juntar roupa e comida em uma mochila do tipo Speedo: tudo em vão, não cabia nem a metade do que pretendíamos levar.

Nem metade daquilo que éramos e nem metade daquilo que sou hoje. Não sei como você seria, mas sei que tudo corre para o bem de cada um. Penso que é melhor para nós dois que eu carregue só as lembranças em meu peito porque se fosse diferente, e você estivesse aqui, talvez um de nós estivesse em grande sofrimento. E, ao menos nas lembranças, eu posso eternizar os momentos bons e afixá-los em um mural no meu quarto, caso me agrade. Mas por enquanto eu prefiro deixar o rolo X-T400 da Kodak na gaveta e olhá-lo vez em quando ou abrir o álbum de papel, ante a insistência da saudade.

3 comentários:

  1. Muito bela forma de expressar essa danada da saudade!!!!!Parabéns!!!Bjsss

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  2. Edilma, não queira voltar no tempo para "consertar", que é certo, não faria diferente - agimos como as coisas se apresentam no momento e nem tudo depende de nós. Se há saudade, é porque tiveram muitas coisas boas!! Feliz ano novo!!

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  3. Lindo texto. Parabéns pelo blog.
    Contemple uma premissa de meu primeiro livro O Amortecimento, disponível em http://www.bookess.com/read/14684-o-amortecimento/

    Divã da Tia eni
    www.divadatiaeni.com

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