24 de maio de 2013

O Contato

Haviam se conhecido numa ocasião não muito boa para ambos. Na época, ela tinha acabado de ser demitida e ele tinha acabado de ser transferido para outro país. Ambos tinham receio: ela por não saber o que fazer da vida – após haver se dedicado durante muito tempo ao trabalho como se fosse a sua própria família –, e ele na incerteza da sua adaptação a um mundo que desconhecia. Estavam intranquilos, ambos deixavam laços para trás. Ele muito mais do que ela. 


Na época, a despedida acabou sendo mais sorridente do que triste para ambos. Descobriram algo em comum: os percalços inevitáveis da vida. Ela foi leva-lo ao aeroporto. Na ocasião, eles prometeram voltar a se encontrar, mesmo que isso custasse uma viagem de curta duração. Aquela esperança facilitou a vida de ambos dali pra frente. E muito mais para ela que foi mais forte do que imaginava que seria. Lutou, conseguiu um novo trabalho e se refez: tudo na esperança de rever aquele homem. Ele foi mais cauteloso, já tinha se dado por satisfeito e só de tê-la encontrado naquele dia já era reconfortante, mesmo assim nutria um pouco de esperança de poder revê-la.

 Pois bem, o que justifica essa diferente perspectiva de um e outro é a situação estrutural de cada um deles. No momento do encontro ela estava mais fragilizada, tinha dívidas e havia perdido o emprego; ele tinha boas condições financeiras – seu ponto de escuridão residia na possibilidade de abandonar seus familiares e amigos para trás, ter que se adaptar a uma nova cultura. Talvez por essa diferença eles tenham encarado a possibilidade de um novo encontro sob diferentes perspectivas.

 Sob o ponto de vista dela, o encontro foi uma ponta de esperança. Quando ela se achava triste, ele apareceu e a alegrou. Mesmo que a alegria tenha a encontrado e ido embora em pouco tempo. A partir daquele momento, ela decidiu viver em prol do reencontro. Talvez tenha sido ingenuidade da parte dela pensar sob essa perspectiva, mas talvez pensar assim tenha sido bom pra ela – já que a ajudou a se refazer enquanto mulher, enquanto pessoa. 

Trocaram e-mails durante um tempo, falaram via Skype mas, devido ao trabalho, ele reduziu o contato com ela. Foi triste, mas mesmo assim ela tratou de entender. Num dia, mesmo sem saber como, escreveu umas frases pensando que, em algum momento, poderia dizer para ele olho no olho. Foi mais ou menos assim: Você é como um texto que quando leio o riso fica no canto dos lábios esperando a oportunidade para se abrir por completo. Contenho o riso para não atrapalhar a minha visão do todo que se desata em versos.

 Deixou as frases de lado e está esperando a oportunidade de falar com ele novamente. Que dia, ninguém sabe ao certo. A verdade é que a emoção continua dentro dela.

Um comentário:

Você pode dizer muito ou quase nada; pode apenas fincar as suas unhas e aranhar a minha janela ou derrubar as cortinas, não tem problema: mostre que você está vivo! Obrigada por estar aqui!