Acessibilidade

“Eu não tenho muito, quase nada. Só a sombra do meu corpo misturada a galhos secos”. Após pronunciar essas palavras, ele me estendeu a mão. Foi o suficiente.

Antes de o amor chegar, eu estava sentada em frente ao mar, boca seca, pés cansados, olhar perdido e mãos corroídas. Mãos corroídas pelo tempo. Tempo de espera que me machucava a cada vez que eu olhava para a vida e não enxergava a esperança junto à ponta dos seus dedos; a cada vez que eu tentava levantar e não conseguia porque as forças me faltavam e me impediam de ir além. Foi então que, ao longe, eu vi a sua mão e meu rosto se iluminou. Foi quando você veio.

Antes de o amor chegar era tudo tão distante, difícil de alcançar com minha pequena força. Era tudo embaçado. Foi quando você veio e clareou as idéias, os lugares mais escondidos. Clareou o tempo. Clareou a minha vida: os meus passos têm um destino certo. Vejo pontes em todos os lugares: nos lugares mais encobertos. Vejo você.

Vejo você com um sorriso largo no rosto, mente aberta e coração, também. Um braço forte e  um abraço em cada lado do corpo, um pensamento novo a cada esquina. É como se no mundo a distância fosse apenas uma lembrança: não existe mais. Você me acolheu e me deu livre acesso à sua casa e mostrou o outro lado do mar. Você me levou ao seu jardim e me convidou para entrar em sua sala e matou a minha sede. Você me acolheu e eu me senti parte do seu mundo e eu deixei de ser um fantasma em mim mesma. Eu tenho acesso agora. E, com o meu olhar terno e mudo, repito o que você me disse quando me estendeu a mão: “Eu não tenho muito, quase nada. Só a sombra do meu corpo misturada a galhos secos”. Porque você me deu tudo. Você me deu acessibilidade. E eu te ofereço amor.

Texto original foi escrito para um trabalho de pós-graduação em marketing junto à Empresa CENTRAE. Agora, com modificações, na blogagem coletiva com Luz de Luma , Rute e Espiritualidade.