5 de dezembro de 2013

A Linha Tênue que Separa o eu Poético do eu Acadêmico

Estou em branco com as palavras ultimamente. Eu até entendo o fato de estar em branco, estou mais acadêmica do que nunca, e ninguém há de compreender isso e nem eu quero. Afinal, o que os outros têm a ver com a minha febre acadêmica? E os outros devem estar se perguntando que raios é essa história de “acadêmica?” Suspiro lento e com dificuldade para responder a um questionamento que eu mesma coloquei na cabeça dos outros: um acadêmico estuda, se entrega, busca problemas, desenvolve e destrincha cada tópico, procura uma metodologia que mais se adéqua e aplica. É só isso? Possivelmente... Não!

23 de setembro de 2013

Ensaio - Amor em Sonho

De repente, várias pessoas se amontoaram em frente à roda gigante: todos queriam ver o fenômeno que, em breve, apareceria no céu. Outra camada, além daquele azul que vemos todos os dias, ia se abrir e, em poucos dias, o amor iria desaparecer por completo da vida dos seres humanos. Foi então que ele me disse: “Durma, tenha um longo sonho e me encontre na rua dos trilhos às 23h00. Quando me encontrar seja doce. Seja doce e me peça para chegar mais perto de você e derrame sobre mim todo sentimento. Me peça pra ficar, não importa o sentido”. 

6 de agosto de 2013

Samba da Bênção – A Finalização

“A vida não é brincadeira, amigo.
A vida é arte do encontro”. 
Composição: Baden Powell / Vinícius de Moraes




Fotografia da autora
Caro Fontes, começo a escrever este texto ao som do Samba da Bênção na voz da Bebel Gilberto. Afinal, é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe. Eu sei, eu sei que na música é melhor ter um pouco de tristeza para escrever um bom samba, mas aqui, meu amigo, a realidade é outra. Hoje eu estou alegre! E a minha alegria tem a ver com finalização. Eu sei que você não deve estar entendendo nada a princípio, mas depois de um tempo você vai acabar compreendendo o que eu estou tentando dizer. Hoje estou falando de fe-cha-men-to. Sim, as disciplinas do primeiro semestre do mestrado estão sendo finalizadas e eu deitando o corpo por completo na cama macia pra voltar a te escrever.

13 de junho de 2013

A Provisoriedade das Coisas

Era difícil para Anita lembrar da sua infância. Ué, mas a infância não é gostosa? Tem balanço, tem bola de gude, tem pega-pega. Tinha tudo isto, só não tinha conforto: não era palatável recordar o passado. Na infância de Anita, seus amigos pareciam sempre mais felizes e mais estáveis; ora, era óbvio! Ela é que não tinha posses; ou melhor, sua família não tinha posses. A mais simples casa parecia um palácio suntuoso frente a sua que era de taipa. Como era triste a infância do querer de Anita; não se deve ter pena!

24 de maio de 2013

O Contato

Haviam se conhecido numa ocasião não muito boa para ambos. Na época, ela tinha acabado de ser demitida e ele tinha acabado de ser transferido para outro país. Ambos tinham receio: ela por não saber o que fazer da vida – após haver se dedicado durante muito tempo ao trabalho como se fosse a sua própria família –, e ele na incerteza da sua adaptação a um mundo que desconhecia. Estavam intranquilos, ambos deixavam laços para trás. Ele muito mais do que ela. 

25 de abril de 2013

A Carta que Atravessa o Tempo

Viajar junto com milhares de objetos só para me ver. Você, às vezes, me surpreendia. Confesso que vez ou outra me pegava tomada por um certo incômodo ante a espera de uma resposta a um questionamento que demorava meses pra chegar até mim e isso, claro, me causa certa ansiedade. Rasuras, cores de canetas variadas, desenhos imperfeitos: assim era você, assim éramos nós. Agora, neste instante, uma saudade imensa invade o meu peito, sinto em cada palavra escrita os seus lábios: ainda tenho as cartas anteriores guardadas na gaveta de cabeceira. Éramos tão felizes, tão sorridentes, tão... Ah, como me toma inteira essa vontade de estar em seus braços. Como me consome a memória a lembrança dos seus traços salientes em cada começo de frase. Suas cartas sempre bem-vindas em momentos inesperados e esperados. As suas histórias, a nossa história. 

4 de março de 2013

Me Rendo

Nunca fui capaz de dizer eu me rendo. Mas ao mesmo tempo penso que, como todos dizem, pronunciar ‘nunca’ é coisa muito forte. Portanto me corrijo e digo que não tinha havido, em minha vida, a oportunidade de me render para um outro ser assim como aconteceu. E olhe que em minha vida já passou o King, a Priscila, o Marrom, o Carrilhão e talvez a memória tenha me falhado. Mas o que é a memória quando não se sabe distinguir entre a doação real e a doação inventada. A retórica diz que não é nada. Ser assaltada por sentimentos de cuidado, preocupação, tensão e temeridade não é coisa que acontece todo dia, ao menos para mim.

6 de fevereiro de 2013

Expectativa para o Carnaval


Não falo do carnaval deste ano, mas de todos os que estão por vir. Vai ser sempre assim: agitado, ansioso, contagiante. Sim, porque mesmo aqueles que não participam da festa pensam um dia em brincar nos blocos de rua. Ou mesmo aproveitar o carnaval de outra maneira: um retiro espiritual, um tempo em casa o dia todo descansando, um motivo para reunir a família: tudo isso faz parte da expectativa criada em cima do carnaval.

3 de fevereiro de 2013

Inquietação

“Mas quem tem coragem de ouvir,
Amanheceu o pensamento que
Vai mudar o mundo com seus
Moinhos de vento”.
(Frejat e Dulce Quental)


Só pra quem tem coragem, ele disse esfregando bem forte as mãos e piscando os olhos denotando uma inquietação nunca antes vista em seu semblante. Sempre calmo, rosto sereno e tranquilo, ninguém jamais duvidou da sua coragem, porém questionavam sua agilidade e insistiam que ele não iria muito longe porque pouco expressava sua opinião quando solicitado. Pouco se doava nos relacionamentos, não por medo. Ele tinha uma espécie de código de conduta: não requerer satisfação quando não parecesse necessário; não fingir amor quando não sentia; não cobiçar quando não lhe apetecia. Não fazia nada por fazer, era o seu lema, preferia deixar seguir. Era sereno.

7 de janeiro de 2013

Da Janela

Ainda ouço o barulho dos fogos de artifício queimando no céu azul da madrugada do dia primeiro. Naquele instante, parei para acompanhar o espetáculo que se formava no céu e tenho certeza de que algumas outras pessoas também pararam em frente à janela para espiar a queima em massa e, sem perceber, pousaram o olhar em um ponto específico e se perderam no tempo e os fogos viraram um cenário de lembranças. Para alguns, a passagem do ano se mostra apenas como uma simbologia ou a simples troca de um número pelo outro, o resto é uma constante: as perspectivas ou a falta delas, as leituras, as histórias, o cronograma, a tarifa de embarque, as roupas brancas e etc. Para outros, a passagem é um começo, é a possibilidade de mudar e renovar as forças: é a expectativa de crescimento e desenvolvimento de novos ideais.