16 de janeiro de 2012

Que Ela Fale...

Sugou-me a página em branco e causou um grande alvoroço dentro de mim: uma inquietação daquelas que provoca cócegas na barriga, náuseas e faz as pálpebras tremerem como numa grande crise nervosa que incomoda, demora a acalmar o olhar. Foi a página em branco que me consumiu; sim, consumiu-me como se fosse um extrator e me corroeu por dentro e me absorveu com uma sede imensa por uma bebida forte e pura, sem tira-gosto para amenizar o sabor. Consumiu-me a página como quem sente uma necessidade de ouvir música alta e soltar palavras incessantemente. Sim, palavras legíveis e claras. Claras como o som que sai agora dos meus lábios. “Eu que- ro des-bra-var a insaciável pá-gina em bran-co e quero soltar pala-vras!”. Palavras ditas por meus lábios carnudos e trêmulos.

4 de janeiro de 2012

O Caminho até Aqui


"E vou tomar aquele
Velho navio
Aquele velho navio..."


(Jards Macalé e Wally Salomão)


Ela tinha que seguir em frente, bem sabia; como um músico que inicia sua melodia com firulas para incitar o público a segui-lo no mesmo tom, assim o seu  âmago  indicou o caminho. Fez o seu roteiro como quem faz uma jangada de pau a pique, sem sustentação, sem nenhuma substância, sem previsão de retorno: improvisada pela necessidade do tempo. E, sabia, depois que entrasse no meio do mar não haveria mais volta. Era certo que, em algum momento, a jangada a deixaria à deriva: preferiu arriscar-se.