7 de junho de 2016

Paciência

Eu tenho dormido inegavelmente bem na casa de outras pessoas, tenho deixado o corpo relaxar como nunca dantes. Esse fato não aconteceria se eu eu não dormisse há um tempo no sofá de casa. Tenho ouvido muito por aqui há dias, anos: “tenha paciência, minha filha! ”. Que tipo de paciência você sugere que eu tenha quando a única coisa que sinto é o corpo doer, se contorcer, não relaxar no sofá de casa. Casa, casa, casa. Ai, eu estou perdendo a paciência agora. Eu sei disso porque eu estou passando a mão no rosto, esfregando a testa, sentindo o peso dos olhos, a face rígida. Há algo muito errado nessa falácia toda.



Eu estou perdendo a paciência que busquei e cultivei e respirei com minhas narinas saudáveis - enchendo os pulmões no movimento de inspira-respira. Estou perdendo a paciência de uns dias para cá, talvez alguns meses, anos. O fato é que minha paciência tem se esgotado porque eu não estou sendo ouvida e não há nada que não me faça pensar que isso se trata de descaso com a minha pessoa. Me sinto relegada ao segundo plano. Eu que tenho abdicado de noitadas em prol da família, eu que tenho absurdamente me dedicado aos estudos, eu que tenho dormido no sofá para ceder um quarto para outro corpo relaxar, enquanto o meu se estressa, dói, se contorce. Tantas vezes “eu” quanto for necessário.


Ai, que alívio eu tenho que buscar para sanar a minha falta de paciência e sentir que o corpo pode doer menos? Tem dias que eu só respondo gritando. Tenho um pouco de mágoa das pessoas com quem moro. Elas têm uma cama, estão bem confortáveis e eu... eu só tenho o sofá. Eu tenho mágoa porque elas não fazem muito por mim, tudo o que me fazem é cobrar, cobrar, cobrar tipo: “olha, você tem que fazer isso”. “Olha, aqui está sujo”. “Olha, você já fez a comida?”. Ai, tanta responsabilidade tem me matado aos poucos e tem roubado minha paciência, mas você deve saber que há mais do que isso em jogo. Há outras cobranças: a do trabalho, a dos estudos. Pessoas que de alguma forma têm roubado o meu bem, meu conhecimento, sem me dar um retorno também me fazem mal e tiram minha paciência. Ai, estou respirando fundo e com dificuldade. Fecho os olhos e tento relaxar aqui deitada no sofá. Tenho vontade de gritar, talvez tudo melhore e eu volte à calmaria de antes de tudo isso me incomodar, de antes de ter ficado sem paciência.

2 comentários:

  1. Oi, Edilma!
    Fiquei na dúvida se falava de si ou de um personagem. Se for de um personagem, está muito bem construído. Se for a realidade, me compadeço de você, porque não dormir mina toda a nossa energia. O mundo paralelo que existe enquanto dormimos, nos dá suporte para ir mais além, do contrário, sem essa reciclagem, a vida se torna sem "vida". Se é possível!
    Beijinhos no coração!!

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    1. Oi Luma! Quanto tempo! sim, é um personagem. E concordo com você: "não dormir mina a nossa energia". Até breve! Beijos

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