Eu tenho dormido
inegavelmente bem na casa de outras pessoas, tenho deixado o corpo relaxar como
nunca dantes. Esse fato não aconteceria se eu eu não dormisse há um tempo no sofá
de casa. Tenho ouvido muito por aqui há dias, anos: “tenha paciência, minha filha!
”. Que tipo de paciência você sugere que eu tenha quando a única coisa que
sinto é o corpo doer, se contorcer, não relaxar no sofá de casa. Casa, casa,
casa. Ai, eu estou perdendo a paciência agora. Eu sei disso porque eu estou passando
a mão no rosto, esfregando a testa, sentindo o peso dos olhos, a face rígida.
Há algo muito errado nessa falácia toda.
Eu estou perdendo a
paciência que busquei e cultivei e respirei com minhas narinas saudáveis - enchendo os pulmões no movimento de inspira-respira. Estou
perdendo a paciência de uns dias para cá, talvez alguns meses, anos. O fato é
que minha paciência tem se esgotado porque eu não estou sendo ouvida e não há
nada que não me faça pensar que isso se trata de descaso com a minha pessoa. Me
sinto relegada ao segundo plano. Eu que tenho abdicado de noitadas em prol da
família, eu que tenho absurdamente me dedicado aos estudos, eu que tenho
dormido no sofá para ceder um quarto para outro corpo relaxar, enquanto o meu se
estressa, dói, se contorce. Tantas vezes “eu” quanto for necessário.
Ai, que alívio eu tenho
que buscar para sanar a minha falta de paciência e sentir que o corpo pode doer
menos? Tem dias que eu só respondo
gritando. Tenho um pouco de mágoa das pessoas com quem moro. Elas têm uma cama,
estão bem confortáveis e eu... eu só tenho o sofá. Eu tenho mágoa porque elas
não fazem muito por mim, tudo o que me fazem é cobrar, cobrar, cobrar tipo: “olha,
você tem que fazer isso”. “Olha, aqui está sujo”. “Olha, você já fez a comida?”.
Ai, tanta responsabilidade tem me matado aos poucos e tem roubado minha
paciência, mas você deve saber que há mais do que isso em jogo. Há outras
cobranças: a do trabalho, a dos estudos. Pessoas que de alguma forma têm
roubado o meu bem, meu conhecimento, sem me dar um retorno também me fazem mal
e tiram minha paciência. Ai, estou respirando fundo e com dificuldade. Fecho os
olhos e tento relaxar aqui deitada no sofá. Tenho vontade de gritar, talvez
tudo melhore e eu volte à calmaria de antes de tudo isso me incomodar, de antes
de ter ficado sem paciência.
Oi, Edilma!
ResponderExcluirFiquei na dúvida se falava de si ou de um personagem. Se for de um personagem, está muito bem construído. Se for a realidade, me compadeço de você, porque não dormir mina toda a nossa energia. O mundo paralelo que existe enquanto dormimos, nos dá suporte para ir mais além, do contrário, sem essa reciclagem, a vida se torna sem "vida". Se é possível!
Beijinhos no coração!!
Oi Luma! Quanto tempo! sim, é um personagem. E concordo com você: "não dormir mina a nossa energia". Até breve! Beijos
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