29 de agosto de 2011

Sentimentalidades

Gostava de ficar ali, rente à janela, onde os pingos da chuva batiam com uma constância perturbadora e onde o Sol iluminava o rosto de quem se posicionasse no lugar em que ela está agora.
 
Caminhou até ali com passos quase que cronometrados, apoiou-se no parapeito e olhou as mãos e percebeu o quanto elas estavam envelhecidas e concluiu que o tempo havia passado rápido demais e ela ainda nem chegara a viver um terço do que gostaria.


Desviou o olhar das próprias mãos e virou-se em direção à sua vida e viu adiante uma sala cheia de mobílias de mogno que há um tempo havia sido seu motivo de orgulho e hoje era apenas parte da decoração.

E então posicionou-se frente a um dos móveis e desejou não estar ali na posição incólume e vazia que ela havia adquirido. E quis, então, poder voltar no tempo e colorir tudo: a janela, a mobília, as bolsas e a casa. E, quem sabe, poder trazer os bolsos cheios de cores para o hoje, o agora. Talvez assim ela pudesse ouvir o barulho de pessoas sorrindo, crianças chorando ou mesmo um outro arrastar de sandálias que não os seus.

A vida havia lhe pregado uma peça. E do outro lado uma voz grita: “Vamos que o almoço está na mesa!”. Nada, apenas o vizinho do andar de baixo gritando para os filhos que corriam na rua.

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