8 de agosto de 2011

Das coisas que interpretamos

Houve um período da vida em que eu tive medo do escuro porque me massacravam com o lema: "fantasmas existem”. E eu, ainda na inocência, acreditava piamente na história e o sono demorava a chegar e eu começava a tremer sob os lençois de algodão azul, que minha mãe gostava de por na cama.

Hoje eu ainda tenho um pouco de medo do escuro, mas não é de qualquer escuridão. A minha alma é que fica obscura e é um clamor quando acontece e aí tenho que agir rápido; algo está errado. Daí eu fico com medo porque a vida está pesando em mim.


Antes eu não tomava café de jeito nenhum. Achava feio, escuro: um horror; gosto amargo. Diziam para mim que era melhor tomar leite, mais saudável; além do mais, leite é bom para dormir: acalma a alma e tem gosto adocicado. O café enfurece, agita; deixa você de sentinela, diziam.

Hoje eu tomo café: dois dedos, às vezes uma xícara. Agora eu quero ficar de sentinela, na espera do amanhecer; na cara dos livros. Dizem que uma xícara de café no horário da manhã faz bem para o coração: esquenta! É por esses e outros motivos que eu tomo. Também misturo com leite: assim vejo os dois lados da vida.

Antes eu adorava quando chovia, só para sair de casa e ficar ensopada com aquela água forte e gelada que caía do céu. Ah, como era bom.

Hoje eu ainda gosto quando chove e ainda tomo banho de chuva. Só que tem vezes que eu peço para a chuva ir embora e Sol apareça. “Vem Sol! Vem Sol!”. É desconfortante; mas, ao mesmo tempo, eu aprendo muito com essa chuva. E quando o Sol finalmente chega, eu me sinto mais forte e mais completa.

Antes diziam pra mim – voz rouca: "Não chegue perto do poço, minha filha! Se você cair lá, não vai ter ninguém pra te salvar!" E eu passava longe do poço fundo. Tinha medo.

Perdi as contas de quantas vezes cai no poço; morri um pouco em cada um dos poços que caí. O que eu posso dizer, neste instante, é: perdi o medo! Eu  caí, mas trouxe comigo fragmentos de umidade e resistência. Não sei como sobrevivi, mas sei que houve um resgate.

E estou aqui, neste instante, falando do antes e do agora e dos poços e da minha  façanha de ter sobrevivido. Antes eu não sabia sorrir; hoje aprendi que "rir é o melhor remédio!"


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